terça-feira, 31 de março de 2009

O “ Ainda” marca o ritmo de Angola

“Ainda” esta é uma palavra que eu acho muita piada e caracteriza um pouco o ritmo “pachorrento” do Angolano. Inicialmente, quando perguntava algo e me respondiam “ainda” eu ficava a pensar “ainda? Mas, ainda o que?”, depois percebi que “ainda” quer dizer “não”, ou melhor, “ainda não”. Mas então porque é que quando eu pergunto “ Já fizeste aquilo?”, não me respondem que “não, ainda não”, pois é, dá muito trabalho. Portanto, Qualquer pergunta começada por “Já…”, a resposta mais provável que recebes é “ainda”.

O trabalho e o Angolano são duas palavras que não combinam. Imaginem um Português e um sueco, agora imaginem um Angolano e um Português, pois é, a proporção de trabalho realizado é mais ou menos essa, e acho que não é necessário identificar quem realiza mais trabalho…

Em Angola, não é que as coisas andem devagar, é mais aos empurrões. Portanto, se queres algo tens de ir empurrando e pode ser que um dia chegues lá. Vou dar um exemplo, chegas a um restaurante e sabendo que a comida vai demorar pedes logo uma cerveja e umas entradas, passado uns minutos vêm perguntar-te que marca de cerveja queres, entretanto voltam para dizer que não têm dessa marca, escolhes outra marca e passado mais uns minutos lá trazem a cerveja, mas não trouxeram o copo, então pedes para te trazer o copo, como passado uns tempos percebes que o copo vai demorar deixas de ser “cocó” e bebes pela garrafa, e eis que quando estás quase a explodir de tanto esperar, chega a tua refeição, vais comendo e conversando e quando acabas o prato… chega um rapaz com o copo e as entradas que pediste ao inicio… tu, já um pouco irritado perguntas “olha, as entradas não deviam ser servidas antes da refeição? e o copo não devia vir ao mesmo tempo que a cerveja?”, ele olha-te com um ar concordante como quem diz “o gajo até tem alguma razão…”, sorri, e segue no seu ritmo “infernal”, e tu, ficas com a “bicicleta”, com um copo de cerveja mas sem cerveja, e com as entradas quando já não tens fome. Este é apenas um dos muitos exemplos que eu podia dar para vos demonstrar a inércia enraizada em Angola.

Portanto, cada vez mais me convenço que a culpa é do calor, e Angola é mais quente que Portugal e logicamente do que a Suécia, logo, nem eles nem nós temos culpa, apenas estamos no sítio errado.

Como tal, só vejo uma solução para esta problemática, que são as alterações climáticas, que podem vir trazer uma nova ordem a este mundo tão desequilibrado….

A filosofia de vida Angolana

O Angolano tem um modo de encarar a vida muito própria, a generalidade, adopta a máxima de viver um dia de cada vez.

Um Angolano se tem dinheiro no bolso que é suficiente para, por exemplo, comprar uma televisão, ele compra-a, não pensando um minuto sequer que vai ficar sem dinheiro para comer o resto do mês, esse problema fica para amanhã. No entanto, em Angola se queres algo tens de o pagar antes, ainda não existe cá pagamentos a 30, 60, ou 90 dias, é costume se dizer que, quem paga adiantado é mal servido, talvez seja, mas isto tem um aspecto muito positivo que é o facto de aqui ainda existir alguma liquidez.

Para um Angolano as coisas más que acontecem, é porque estavam destinadas a acontecer e ele não tem qualquer controlo sobre elas. Existe várias maneiras de ver um problema, por exemplo, quando chove e a água invade as casas, existem aqueles que acham que a casa é inundada porque não têm saneamento que permita o escoamento da água, e como tal, a culpa é dos governantes que ainda não conseguiram solucionar esse problema, para outros este é um problema que acontece quando chove e que não se pode controlar a mãe natureza, e também não chove assim tantas vezes, o Angolano costuma a adoptar esta ultima postura.

A desculpabilização é também aqui uma forma de arte, têm desculpa para tudo, mesmo que essa desculpa não tenha nada a ver com o caso em questão. Se perguntas qual o motivo para ele não ter vindo trabalhar ele responde-te coisas do género “ontem não ouve luz “, “ouve óbito na minha rua”, “tché, muita obra em casa”, “a minha dama desapareceu”, se queres um conselho, não tentes saber o que é que isso tem a ver com o caso, ainda vais ficar mais confuso.
Se existe um acidente, ninguém teve a culpa, ficam no meio da via a discutir até que chegue a polícia, ou pegam logo na chave de rodas e partem para o confronto (muito comum aqui e nada bonito de se ver…). Nós já batemos, mas foi coisa pequena, só um pisca, e sinceramente, fomos os culpados, mas como, em Roma sê romano, então, em Luanda sê “luandano”, e toca de ir lá para fora discutir, felizmente não houve confronto físico, também nem uma chave de rodas tínhamos à mão, inconscientes... Um bom negócio para aqui seria vender um kit composto por uma chave de rodas e um bastão…

Mas o que eles gostam mesmo é de festa, de preferência com música “grande” (alta em português de Angola, provavelmente esta expressão será já considerada no novo acordo ortográfico…), e quando á festa, a música é mesmo “grande”, até os vidros tremem, e sentes a música a bater no teu coração, literalmente!

quarta-feira, 25 de março de 2009

CAN 2010 é em Angola

Angola vai receber o CAN 2010 que é o Campeonato Africano das Nações, é como o Campeonato Europeu de Futebol só que em África. O povo Angolano está ansioso pelo começo deste campeonato, agora, será que estão preparados para o receber? esta é outra história.

Na minha opinião as obras estão muito atrasadas, e duvido seriamente que estejam prontas a tempo. Além dos estádios, e acessos aos mesmos, algo que me deixa intrigado é, onde se vão alojar todas as comitivas e adeptos que se vão deslocar a Angola para participar neste evento, principalmente a Luanda, que é a realidade que eu conheço melhor. Se os poucos hotéis existentes estão quase sempre lotados, e os que se estão a construir duvido que fiquem prontos a tempo, onde é que vão meter essa gente? Sinceramente, não sei! Mas se tivesse que viajar para Angola nesse período se calhar pensava duas vezes.

O CAN 2010 é assunto diário nos serviços noticiosos Angolanos, mas as notícias são sempre as mesmas, uma destas noticias referia que a culpa de as obras estarem atrasadas, é que o material necessário para o desenrolar das mesmas se encontra retido no Porto, e do que eu conheço da “celeridade funcional” deste porto acredito que seja mesmo esse o motivo.

No entanto, o Angolano é um optimista por natureza, e acredito que no final se vão desenrascar. E depois do grande slogan que inventaram para a visita do Papa, e tendo em conta o atraso das obras, eu não resisto em deixar uma hipótese para o slogan do CAN 2010, O que é que acham do
seguinte?

“Yes we CAN”

Então? Que nem uma luva, não é?

Viva o Papa

O Papa veio a Angola, e tudo parou para o receber.

O governo deu tolerância de ponto na sexta-feira o dia em que o Papa chegou para que o Povo o fosse receber, depois decidiu também dar tolerância de ponto para a manhã de segunda-feira o dia em que o Papa abandonava o solo Angolano (mais valia ter dado o dia todo, porque foram poucos os que trabalharam à tarde). Eu não condeno a o facto de o governo dar a tolerância de ponto, até porque com as ruas que foram cortadas, provavelmente ninguém ia conseguir chegar ao trabalho devido ao trânsito, mas ao tempo que esta visita estava programada podiam ter informado a população com mais antecedência. Mas, em Angola nada se programa com antecedência e se o tentares fazer o mais provável é não o conseguires cumprir.
No entanto, a visita do Papa foi uma alegria para os Angolanos, até para aqueles que não são católicos, a principal razão que contribui para esta alegria generalizada foi não terem ido trabalhar e tiveram a possibilidade de organizar mais umas festas.

Mas o Papa foi muito bem recebido, até deram um jeito às ruas por onde o Papa passou, o que está mal, giro era o Papa mobile ter que passar pelos buracos e lagoas que eu tenho que passar todos os dias, imaginem o Papa a abençoar as pessoas com água pelo meio do Vidro, provavelmente, em vez de acenar com a mão iria apertar o nariz e preparar-se para mergulhar…

Claro que o povo também aproveitou a oportunidade para fazer negócio, e tudo era vendido com a figura do Papa. O que eu gostei foi do slogan que arranjaram para o Papa, simples e poderoso, “Papa, Amigo, Angola está contigo”, como é que ninguém se tinha lembrado disto antes…

segunda-feira, 16 de março de 2009

A cozinha Angolana

A cozinha Angolana é muito semelhante à Portuguesa, talvez um pouco mais condimentada. A Galinha é o prato do dia, é a carne que mais se come, é impressionante, existe de tudo com galinha. Existem também alguns pratos típicos, como por exemplo o funge e o mufete. O funge é uma espécie de massa, tipo uma papa, e existem diversos tipos de funge, dependendo do tipo de massa com que é feito ou da carne/peixe que acompanha. O mufete é peixe acompanhado com feijão em óleo de palma, banana pão, batata doce, e farinha mandioca.

Claro que existe a parte higiénica da questão. Não contando, com as poucas superfícies comerciais existentes, não vês talhos e peixarias, e a generalidade da carne e peixe são vendidos na rua, e passam todo dia a apanhar sol, pó, etc, e para perceberes qual o tipo de carne ou peixe aquilo é, tens que pedir às senhoras que sacudam o manto de moscas que os cobre, e, se fores rápido, enquanto as moscas levantam e pousam consegues ver o que estava lá de baixo.

Começas a pensar de onde vem a comida que te colocam á frente, principalmente a que costumo comer ao almoço que vem de umas barracas, que para terem uma pequena ideia destes espaços, quando chove formam-se umas lagoas ao pé destas barracas , e os carros ao passarem criam uma onda de água que entra pela barraca dentro e as pessoas têm de levantar os pés durante algum tempo até a água voltar para a rua.

Nós optamos sempre por mandar sempre alguém comprar a comida e comemos no nosso local de trabalho, até porque existe aquela máxima que diz “o que o coração não vê, o coração não sente”, e se pensares que, “o que não mata…engorda”, e rezares um pouco para que a comida tenha sido bem cozida, então não há “maka”, e umas diarreias depois… já marcha tudo!

A parte engraçada é quando recebemos visitas no nosso local de trabalho, e como pessoas educadas que somos…atchim… convidamos sempre para almoçarem connosco, nem é preciso dizer que elas aceitam prontamente…até que descobrem a proveniência da comida, nesta altura, acontece sempre algo que os impede de ficar, e temos tido o “azar” de acabar sempre a jantar sozinhos.

Claro que isto aqui era um festim para a asae e durante algum tempo torces o nariz e andas cheio de cuidados mas, algum tempo depois e atendendo às circunstâncias do sitio onde te encontras, já nem reparas, e sinceramente tenho achado a comida saborosa.

É óbvio que se não apanhar uma disenteria é uma sorte, mas de fome não morro…

Angola sempre a dançar

O povo angolano deve nascer a dançar!

Toda a gente dança, uns dançam apenas bem, e outros dançam mesmo…mas, mesmo… muito bem. Vais na rua de carro e vês crianças a dançar, mesmo sem música, agora imagina com música. O angolano tem o ritmo no corpo, dá mesmo gosto ver, às vezes até apetece ir lá para o meio, mas o meu “pé de chumbo" não o permite.

Como não danço, sou um atento observador, eu diria mesmo, um estudioso da “coisa”, tal como Nuno Markl diz "o que não nos permite dançar é saber a figura triste que fazemos quando tentamos". Portanto, tenho estado atento e já aprendi umas coisas, existem alguns tipos de dança, tais como, o kuduro, o Kizomba, o semba, e a tarrachinha.

Eu vou tentar explicar algumas características destes tipos de dança, mas… aviso já! Tal como na Wikipédia isto não são informações fidedignas, são apenas informações soltas e que fui apanhando, portanto, se és alguém que fez uma procura no Google acerca deste assunto e vieste parar a este blog é altura de fechares esta página e abrires outra.

Avançando… O kuduro é ritmado e dança-se sozinho. O kizomba, semba e tarrachinha são para dançar acompanhados (pode ser por uma vassoura, que tem a vantagem de não ter pés, logo não corres o risco de a pisar...), e a principal diferença entre eles é a velocidade com que se dança, e a passada que é mais larga nuns do que nos outros. Agora, não me perguntem qual é mais rápido, se o kizomba ou o semba, eu penso que é o Kizomba, mas não tenho a certeza, sei que a tarrachinha é a mais lenta de todas.
A tarrachinha consiste basicamente no seguinte, o rapaz fica parado fazendo de vez em quando, uns movimentos para acompanhar a dama, enquanto esta… como hei-de eu dizer… roçar ou esfregar não fica bem…, digamos que faz uns “movimentos, cheios de sensualidade” muito encostadinha ao rapaz.

O semba e o kizomba são muito parecidos, e sinceramente ainda não percebi muito bem a diferença entre eles, e também acho que a diferença não é muito

A parte que eu acho muito engraçada, é a forma como os rapazes agarram a sua dama enquanto dançam. Existem muitas formas de segurar a dama, embora a mais usual, e também a que eu gosto mais de ver, é aquela que eu vou tentar descrever, sendo que, ao vivo é sempre mais giro.

Portanto, sigam os próximos passos, e se tiverem alguém por perto tentem reproduzir.

1º O rapaz coloca uma mão direita nas costas da dama, mais acima ou mais abaixo dependendo da intimidade que têm os dois…

2º O rapaz estende o braço esquerdo com a mão aberta, e a dama agarra o seu polegar, mas mesmo só o polegar .

3ª O rapaz encosta a sua bochecha na bochecha da dama, e encosta a sua mão junta com a mão da dama ao seu ouvido, como se as duas mãos fossem um rádio e ele estivesse a ouvir o relato.

4ª Cerram um pouco os olhos e lá vão eles…

Obs. Se reparares no rapaz, parece que o rádio não está a funcionar muito bem, e ele está a fazer uns movimentos à procura de sinal.

Mas… meus amigos… dançar é com eles!

segunda-feira, 2 de março de 2009

A segurança em Luanda

Muitas pessoas perguntam como é que Luanda em questões de segurança, principalmente a minha mãezinha. E, sinceramente, ainda não tinha focado este assunto por duas razões. A primeira prende-se com o facto de estar á espera de ser assaltado para ter uma opinião mais realista da coisa, mas ainda não tive esse privilégio (mãe, esta parte é a brincar …). A segunda razão tem a ver com o facto de ainda não ter uma opinião muito concreta acerca deste assunto.

No entanto, vou partilhar convosco o que eu sinto e o que me têm dito.

Quando andamos na rua vemos tanta gente à nossa volta que, por vezes, parece que a qualquer momento vai existir um motim.

Mas, também é certo que em Portugal não se vê tanta polícia na rua, embora aqui a maior parte não faça muito e esteja mais interessada em caçar alguém que lhes dê uma “gasosa”, e para ver a qualidade desta força, basta dizer que a semana passada roubaram a arma a um polícia em plena rua. Mas, existem uns que lhes chamam os “ninjas” que não são para brincadeira… cuidado, se lhes pedirem alguma coisa convêm obedecer…
O que tenho ouvido e sentido, é que se tiveres o cuidado de andar acompanhado, não andares por sítios suspeitos, e passares despercebido, em princípio, não terás grandes problemas. Agora, as pessoas com quem ando têm o cuidado de trancar sempre as portas do carro, e isto quer dizer alguma coisa…
Além de que, práticamente todas as empresas têm à porta seguranças armados, principalmente com as famosas AK 47, prontos para responder a qualquer eventualidade...

Existe na Lei Angolana algo muito especial. Segundo me disseram, se um trabalhador é apanhado a roubar a empresa, a entidade empregadora pode mandar prender o indivíduo, e só o soltam quando a empresa der ordem nesse sentido. Isto é, no mínimo, sui generis.

Imaginem uma lei destas em Portugal. Se nós efectuamos os nossos descontos, e o ordenado dos nossos governantes é fruto desses descontos, penso que podemos ser considerados a entidade empregadora. Portanto, será que poderíamos mandar prender os nossos governantes?

Angola - A terra dos geradores

Angola ainda tem muitos problemas com o abastecimento de energia à população. Embora tenha imenso petróleo, é frequente as bombas ficarem sem combustível, e existem sempre filas de carros e montes de bidões à espera de abastecer. Os bidões são utilizados para alimentar os geradores, ou acabam por serem vendidos no mercado negro a pessoas que, ou não tem bombas de combustível por perto ou não têm disposição para enfrentar as filas de espera. Ainda não percebi é, se isto resulta de um problema logístico ou de falta de refinarias.

Outro problema é o acesso à energia eléctrica, existem imensos cortes de energia que podem durar alguns dias. Para quem tem frigoríficos e arcas congeladoras com alimentos perecíveis à temperatura ambiente, isto torna-se incomportável. Como tal, a solução é ter um gerador que produza energia eléctrica. Estes geradores estão por todo o lado e produzem um barulho ensurdecedor e irritante, e imaginem aquelas pessoas que moram em prédios e que têm os geradores nas varandas e, alguns estão mesmo colocados nos corredores de acesso aos apartamentos, pois é, chateia um bocadinho…

No entanto, existem uns geradores denominados de insonorizados, desengane-se quem pense que isto significa que estes não produzem ruído, porque ao contrário do que o nome indica, apenas produzem menos. E, salvo erro técnico, eu acho que a única diferença entre os geradores insonorizados e os normais é que os insonorizados possuem uma caixa envolvente que absorve um pouco o ruído.
Portanto, as ruas têm um barulho característico, já me tinham falado no cheiro característico de África, mas nunca do som… mas, é um pouco como o cheiro a Cacia, passado uns tempos já nem se nota, e se escutares atentamente é como uma musiquinha… muito ritmada…

Agora, o que era mesmo muito giro era colocar nos geradores uns escapes daquelas marcas XPTO (que não me ocorre nenhuma) que produzem imenso ruído e dão rateres. ..