terça-feira, 4 de agosto de 2009

O óbito

Estava eu a dormir serenamente quando, cerca das quatro horas da manhã, acordei sobressaltado devido aos gritos de várias pessoas na rua. Levantei-me e fiquei sentado na cama tentando perceber o motivo daquela gritaria toda e o som de pessoas que corriam de um lado para o outro. Várias ideias me ocorreram «mais uma cena de pancadaria», «um incêndio numa casa», «bandidos apanhados a assaltarem alguma casa», «uma cena de violência doméstica», «uma revolta popular…», decidi então deslocar-me, silenciosamente e sem acender a luz, até um sítio onde conseguia ouvir melhor o que as pessoas gritavam, e consegui finalmente perceber aquele frenesim todo se devia ao falecimento de um vizinho, e eram esses vizinhos que ao acordarem com os gritos da família, corriam até essa casa e juntavam-se à gritaria. Claro que até de manhã não consegui dormir mais nada, até porque, sempre que parecia que se estavam a acalmar, eis que chegava mais alguém e recomeçava tudo de novo.

Sempre ouvi falar que os Africanos encaravam a morte de uma forma diferente dos Europeus. Ouvimos histórias que eles se riem e nós choramos, fazem festas, etc. Mas, já percebi que eles também choram os seus entes queridos.
No entanto, algumas destas histórias são de facto verdade, em particular, as histórias das festas. Fazendo fé no que me contaram, existem duas fases num óbito, a primeira fase acaba com o enterro do falecido, e é caracterizada pelo sofrimento de se ter perdido um ente querido, a segunda fase são as festas que se vão dando em honra do falecido, de referir que durante as duas fases a bebida e comida é coisa que nunca falta, principalmente a bebida.

Pelo que percebi, as bebidas e comida são pagas através de contribuições das pessoas que participam no óbito, a contribuição não é fixa nem obrigatória, as pessoas dão o que podem. O nome da pessoa e o valor da contribuição é apontado numa folha e fica exposto para que toda a gente possa ver (imaginem se a moda pega nos casamentos em Portugal… seria interessante… pelo menos para os noivos…). Dependendo da pessoa que faleceu, e a importância desta na comunidade, esta festa pode demorar vários dias, e facilmente percebes que estás perante um óbito, porque reparas num aglomerado de pessoas ao pé de uma casa, e uma fotografia de alguém à porta, quando o falecido é do sexo masculino está vestido com um fato, que muito provavelmente não é dele, isto porque quando tiras cá uma fotografia tens a opção de alugares um fato e uma gravata para tirares a fotografia, portanto é normal que aches que os fatos que vês nas fotografias dos documentos das pessoas sejam todos parecidos.

Claro que passado nos óbitos, é normal veres muita gente “chupada” (palavra que em Angola significa embriagado, bêbado, ou no português calão “emborrachado”, penso que esta palavra surgiu devido ao facto de eles ingerirem álcool através de uns sacos plásticos. Fazem uns orifícios e vão chupando o liquido por aí, e até se vende whisky nessas embalagens plásticas, estas embalagens assemelham-se com aqueles saquinhos de amostras de champô, embora, o conteúdo não sirva para lavar a cabeça).

Durante todo este processo, existem três dias que são mais intensos, é o dia do enterro, o dia da missa de sétimo dia, e por fim o dia de arromba, com muita comida, bebida e festa, que é o dia da missa de trigésimo dia

Portanto, existem algumas diferenças na forma como o Angolano encara a morte, existe a tristeza por perder alguém querido, mas também alegria por essa pessoa ir para um sítio melhor. No entanto, também existe algumas semelhanças, e tal como nós, as pessoas valorizam depois de morrer, e se muito dificilmente alguém contribuía para lhe providenciar medicamentos, depois de morrer toda a gente contribui para lhe fazer uma festa…

sexta-feira, 31 de julho de 2009

no comment

Já faz algum tempo que eu não escrevo neste espaço, a verdade é que cada vez menos me surpreendo com esta parte do Mundo, tudo me parece cada vez mais normal e natural, afinal de contas talvez me esteja, finalmente, a adaptar ou a resignar a este lugar…

No entanto, na semana passada presenciei algo que me marcou profundamente, não porque não soubesse que estas coisas acontecem aqui e, infelizmente, em todo o mundo, mas porque nunca tinha visto in loco algo de tão violento.

Tive algumas dúvidas se deveria, ou não, descrever este momento, decidi fazê-lo apenas porque quase todos nós já presenciamos cenas semelhantes num qualquer telejornal ou filme. Quero antes frisar que, como já disse anteriormente, as coisas que escrevo aqui, além de ser a minha visão pessoal, são apenas os episódios incomuns que fogem à normalidade dos dias de Luanda (entenda-se, normal em Luanda…). Como tal, não é minha intenção que estabeleçam uma ideia deste lugar, apenas através do que leiam aqui. Para de facto conhecerem convém cá vir, e mesmo assim será difícil conhecer verdadeiramente isto, por várias razões, sempre que vejo imagens de Luanda no telejornal, o habitual é aparecer uma panorâmica da zona da Baia, mas Luanda não é apenas o que fica entre o 1º de Maio e a Baia, não é somente a zona da Ilha ou Benfica, é também constituída por muitos bairros degradados e musseques, e quantos “pulas” cá a trabalhar já entraram no coração do Mercado do Roque? Ou no mercado dos Kuanzas? Ou entraram num musseque e viram por dentro as casas (ou cubículos como realmente lhe chamam) onde habita a maior parte da população? EU NÂO!

Na realidade, existem dois mundos bem distintos em Luanda que coabitam lado a lado, e eu, como a generalidade dos que cá trabalham, acabo por conhecer apenas um pouco do outro lado…
Por vezes quando vou de carro, existem sítios que parecem a passagem de um mundo para o outro, é como existisse uma fronteira imaginária, uma espécie de “twilight zone”. Existe uma zona pela qual passamos todos os dias, onde é frequente existir todo o tipo de desordens, já vi guerra de garrafas entre grupos rivais (“staff” como aqui lhe chamam, o staff do teimoso, o staff do Machete, o staff do Big,…), pancadaria entre pessoal “chupado”, pancadaria de trânsito, e por aí adiante…

Mas o episódio que me marcou foi quando na semana passada, no final dessa rua avistamos um ajuntamento de pessoas, seria de certeza mais uns desentendimentos que acontecem com frequência por aquelas bandas. Prosseguimos a nossa marcha até que tivemos que parar porque não conseguíamos passar, devido às pessoas que estavam no meio da estrada, de repente, no meio daquela confusão toda, surge um individuo com uma catana na mão a desferir golpes noutros, e tudo isto se passava mesmo encostado ao nosso carro, e dois policias assistiam aquilo tudo impávidos e serenos, e só quando alguém conseguiu arrancar-lhe a catana é que eles decidiram avançar muito calmamente por entre a multidão para pôr fim à desordem (claro que o pior já se tinha passado). A multidão começou a abrir e nós conseguimos continuar a nossa viagem, não sem antes ver pessoas ensanguentadas e um indivíduo prostrado no chão. No carro discutia-se a actuação da policia (ou a falta dela…), uns diziam «a policia não faz nada…», outros diziam «catana também corta policia…», eu devo ter ficado cinco minutos sem dizer nada, pensando qual seria o motivo daquela violência toda, o que justificaria aquela selvajaria, e se fosse comigo…entretanto, o meu colega disse «essa guerra não é nossa», e seguimos viagem…

quinta-feira, 16 de julho de 2009

Regresso a Luanda

Já estou de volta a Luanda!

Da primeira vez que vim cá vinha mais entusiasmado, o facto de conhecer outro continente, outra cultura, outro povo era desafiante. Agora é mais do mesmo, não é que eu conheça muito de Angola, longe disso, o problema é que conhecer mais do que eu já conheci não é fácil, devido ao facto de que para saíres da província de Luanda necessites de um carro (e convém que o carro esteja em boas condições), além de que, se tens o azar de teres um percalço pelo caminho não pegas simplesmente no telefone chamas o pronto-socorro.

Quando cá estive os meus colegas disseram-me que na altura de entrar no avião para voltar a Portugal, se olhasse para traz, era sinal que já estava com saudades e nunca mais sairia de Angola, a verdade é que não olhei, porque a vontade de regressar era muita… ou seria porque estava com medo de nunca mais sair daqui… não sei… mas o melhor é não arriscar…

Da última vez apanhei a época das chuvas agora vou apanhar a época do cacimbo, esta é a época seca, e é frequente estar nevoeiro. Portanto, como já não chove pensei que as estradas estariam melhores e que as obras teriam, finalmente, avançado. Puro engano, continua tudo praticamente na mesma, e apenas mudaram os sítios onde estão a trabalhar, por vezes fico com a sensação de que a única coisa que eles fazem é mudar o entulho de um sítio para o outro, como é possível estar uma estrada em obras há meses e não avançar nada? Deixo uma sugestão a quem de direito, arranjem um sítio isolado, façam um buraco e enterrem lá o dinheiro que gastam nestas obras, pelo menos não estão no meio das estradas a complicar ainda mais o trânsito.

Portanto, isto está praticamente na mesma, à primeira vista, o que parece ter mudado é que tiraram umas centenas de candongueiros de circulação, e que a crise também se mudou para cá, A TAAG ainda não pode voar para União Europeia mas já voa para Portugal (hum… estou confuso… se calhar ainda não perceberam se Portugal é união Europeia ou Norte de África), e ainda não existe conhecimento de casos de gripe A em Angola, repito, não existe conhecimento de casos...

segunda-feira, 27 de abril de 2009

"Novo" Código de Estrada

A partir de 1 de Abril de 2009 entrou em vigor o novo código de estrada em Angola. Só mesmo os angolanos para se lembrarem de colocarem em vigor leis, precisamente no dia das mentiras.
Claro que, inicialmente, pensei que ao escolherem este dia para colocarem este código em vigor, seria como passarem uma mensagem subliminar, de que as leis estão aí, mas não são, necessariamente, para se cumprir, isto é, o novo código serviria como uma aproximação às boas práticas do resto do mundo, mas seriam apenas indicativas do caminho a seguir, e esse é um caminho muito longo...

Este código estava condenado à partida, e por diversas razões, começando logo pelo dia em que começou, e depois porque a maioria das estradas existentes não permitem cumprir com a lei, como por exemplo, é proibido pisar linhas continuas! E eu pergunto, que linhas continuas? Só se forem imaginárias, porque eu não as vejo. Acho que primeiro deviam criar estradas com condições e depois sim, colocavam em vigor um novo código de estrada, em qualquer dia excepto no dia 1 de Abril…

Além do colocarem em vigor o novo código de estrada também actualizaram as multas, e são um autêntico escândalo, só como exemplo, a multa para a falta de uma daquelas palas que servem para tapar o sol, ronda os 500 dólares. Sinceramente, nem percebo como é que ainda me surpreendo com este tipo de coisas. Portanto, somando dois mais dois, este código tem um publico alvo especifico, que são aqueles que têm possibilidade de pagar este tipo de multas, especialmente, trabalhadores expatriados.

O resultado da entrada em vigor deste código foi o seguinte; no dia seguinte foi emitido um comunicado a dizer que durante trinta dias não seriam passadas multas, seria um período de adaptação e sensibilização. A maioria dos “kandogueiros” pararam por não possuírem as condições exigidas para transportar pessoas e como uma forma de protesto contra este código, como tal, Luanda parou, as pessoas têm mais dificuldade em arranjar transporte, percorrem longas distâncias a pé, consequentemente, chegam atrasadas ao trabalho e, depois disto tudo, ainda têm dificuldade em voltar para casa, andam muito cansadas, mas sempre sorridentes…

Passou quase um mês desde a entrada em vigor deste código, e a única coisa em que, efectivamente , vi uma evolução foi no uso do cinto de segurança, como tal, deixou de fazer sentido a piada “olha, este meteu o cinto! Deve ter ido à Europa”…

terça-feira, 31 de março de 2009

O “ Ainda” marca o ritmo de Angola

“Ainda” esta é uma palavra que eu acho muita piada e caracteriza um pouco o ritmo “pachorrento” do Angolano. Inicialmente, quando perguntava algo e me respondiam “ainda” eu ficava a pensar “ainda? Mas, ainda o que?”, depois percebi que “ainda” quer dizer “não”, ou melhor, “ainda não”. Mas então porque é que quando eu pergunto “ Já fizeste aquilo?”, não me respondem que “não, ainda não”, pois é, dá muito trabalho. Portanto, Qualquer pergunta começada por “Já…”, a resposta mais provável que recebes é “ainda”.

O trabalho e o Angolano são duas palavras que não combinam. Imaginem um Português e um sueco, agora imaginem um Angolano e um Português, pois é, a proporção de trabalho realizado é mais ou menos essa, e acho que não é necessário identificar quem realiza mais trabalho…

Em Angola, não é que as coisas andem devagar, é mais aos empurrões. Portanto, se queres algo tens de ir empurrando e pode ser que um dia chegues lá. Vou dar um exemplo, chegas a um restaurante e sabendo que a comida vai demorar pedes logo uma cerveja e umas entradas, passado uns minutos vêm perguntar-te que marca de cerveja queres, entretanto voltam para dizer que não têm dessa marca, escolhes outra marca e passado mais uns minutos lá trazem a cerveja, mas não trouxeram o copo, então pedes para te trazer o copo, como passado uns tempos percebes que o copo vai demorar deixas de ser “cocó” e bebes pela garrafa, e eis que quando estás quase a explodir de tanto esperar, chega a tua refeição, vais comendo e conversando e quando acabas o prato… chega um rapaz com o copo e as entradas que pediste ao inicio… tu, já um pouco irritado perguntas “olha, as entradas não deviam ser servidas antes da refeição? e o copo não devia vir ao mesmo tempo que a cerveja?”, ele olha-te com um ar concordante como quem diz “o gajo até tem alguma razão…”, sorri, e segue no seu ritmo “infernal”, e tu, ficas com a “bicicleta”, com um copo de cerveja mas sem cerveja, e com as entradas quando já não tens fome. Este é apenas um dos muitos exemplos que eu podia dar para vos demonstrar a inércia enraizada em Angola.

Portanto, cada vez mais me convenço que a culpa é do calor, e Angola é mais quente que Portugal e logicamente do que a Suécia, logo, nem eles nem nós temos culpa, apenas estamos no sítio errado.

Como tal, só vejo uma solução para esta problemática, que são as alterações climáticas, que podem vir trazer uma nova ordem a este mundo tão desequilibrado….

A filosofia de vida Angolana

O Angolano tem um modo de encarar a vida muito própria, a generalidade, adopta a máxima de viver um dia de cada vez.

Um Angolano se tem dinheiro no bolso que é suficiente para, por exemplo, comprar uma televisão, ele compra-a, não pensando um minuto sequer que vai ficar sem dinheiro para comer o resto do mês, esse problema fica para amanhã. No entanto, em Angola se queres algo tens de o pagar antes, ainda não existe cá pagamentos a 30, 60, ou 90 dias, é costume se dizer que, quem paga adiantado é mal servido, talvez seja, mas isto tem um aspecto muito positivo que é o facto de aqui ainda existir alguma liquidez.

Para um Angolano as coisas más que acontecem, é porque estavam destinadas a acontecer e ele não tem qualquer controlo sobre elas. Existe várias maneiras de ver um problema, por exemplo, quando chove e a água invade as casas, existem aqueles que acham que a casa é inundada porque não têm saneamento que permita o escoamento da água, e como tal, a culpa é dos governantes que ainda não conseguiram solucionar esse problema, para outros este é um problema que acontece quando chove e que não se pode controlar a mãe natureza, e também não chove assim tantas vezes, o Angolano costuma a adoptar esta ultima postura.

A desculpabilização é também aqui uma forma de arte, têm desculpa para tudo, mesmo que essa desculpa não tenha nada a ver com o caso em questão. Se perguntas qual o motivo para ele não ter vindo trabalhar ele responde-te coisas do género “ontem não ouve luz “, “ouve óbito na minha rua”, “tché, muita obra em casa”, “a minha dama desapareceu”, se queres um conselho, não tentes saber o que é que isso tem a ver com o caso, ainda vais ficar mais confuso.
Se existe um acidente, ninguém teve a culpa, ficam no meio da via a discutir até que chegue a polícia, ou pegam logo na chave de rodas e partem para o confronto (muito comum aqui e nada bonito de se ver…). Nós já batemos, mas foi coisa pequena, só um pisca, e sinceramente, fomos os culpados, mas como, em Roma sê romano, então, em Luanda sê “luandano”, e toca de ir lá para fora discutir, felizmente não houve confronto físico, também nem uma chave de rodas tínhamos à mão, inconscientes... Um bom negócio para aqui seria vender um kit composto por uma chave de rodas e um bastão…

Mas o que eles gostam mesmo é de festa, de preferência com música “grande” (alta em português de Angola, provavelmente esta expressão será já considerada no novo acordo ortográfico…), e quando á festa, a música é mesmo “grande”, até os vidros tremem, e sentes a música a bater no teu coração, literalmente!

quarta-feira, 25 de março de 2009

CAN 2010 é em Angola

Angola vai receber o CAN 2010 que é o Campeonato Africano das Nações, é como o Campeonato Europeu de Futebol só que em África. O povo Angolano está ansioso pelo começo deste campeonato, agora, será que estão preparados para o receber? esta é outra história.

Na minha opinião as obras estão muito atrasadas, e duvido seriamente que estejam prontas a tempo. Além dos estádios, e acessos aos mesmos, algo que me deixa intrigado é, onde se vão alojar todas as comitivas e adeptos que se vão deslocar a Angola para participar neste evento, principalmente a Luanda, que é a realidade que eu conheço melhor. Se os poucos hotéis existentes estão quase sempre lotados, e os que se estão a construir duvido que fiquem prontos a tempo, onde é que vão meter essa gente? Sinceramente, não sei! Mas se tivesse que viajar para Angola nesse período se calhar pensava duas vezes.

O CAN 2010 é assunto diário nos serviços noticiosos Angolanos, mas as notícias são sempre as mesmas, uma destas noticias referia que a culpa de as obras estarem atrasadas, é que o material necessário para o desenrolar das mesmas se encontra retido no Porto, e do que eu conheço da “celeridade funcional” deste porto acredito que seja mesmo esse o motivo.

No entanto, o Angolano é um optimista por natureza, e acredito que no final se vão desenrascar. E depois do grande slogan que inventaram para a visita do Papa, e tendo em conta o atraso das obras, eu não resisto em deixar uma hipótese para o slogan do CAN 2010, O que é que acham do
seguinte?

“Yes we CAN”

Então? Que nem uma luva, não é?

Viva o Papa

O Papa veio a Angola, e tudo parou para o receber.

O governo deu tolerância de ponto na sexta-feira o dia em que o Papa chegou para que o Povo o fosse receber, depois decidiu também dar tolerância de ponto para a manhã de segunda-feira o dia em que o Papa abandonava o solo Angolano (mais valia ter dado o dia todo, porque foram poucos os que trabalharam à tarde). Eu não condeno a o facto de o governo dar a tolerância de ponto, até porque com as ruas que foram cortadas, provavelmente ninguém ia conseguir chegar ao trabalho devido ao trânsito, mas ao tempo que esta visita estava programada podiam ter informado a população com mais antecedência. Mas, em Angola nada se programa com antecedência e se o tentares fazer o mais provável é não o conseguires cumprir.
No entanto, a visita do Papa foi uma alegria para os Angolanos, até para aqueles que não são católicos, a principal razão que contribui para esta alegria generalizada foi não terem ido trabalhar e tiveram a possibilidade de organizar mais umas festas.

Mas o Papa foi muito bem recebido, até deram um jeito às ruas por onde o Papa passou, o que está mal, giro era o Papa mobile ter que passar pelos buracos e lagoas que eu tenho que passar todos os dias, imaginem o Papa a abençoar as pessoas com água pelo meio do Vidro, provavelmente, em vez de acenar com a mão iria apertar o nariz e preparar-se para mergulhar…

Claro que o povo também aproveitou a oportunidade para fazer negócio, e tudo era vendido com a figura do Papa. O que eu gostei foi do slogan que arranjaram para o Papa, simples e poderoso, “Papa, Amigo, Angola está contigo”, como é que ninguém se tinha lembrado disto antes…

segunda-feira, 16 de março de 2009

A cozinha Angolana

A cozinha Angolana é muito semelhante à Portuguesa, talvez um pouco mais condimentada. A Galinha é o prato do dia, é a carne que mais se come, é impressionante, existe de tudo com galinha. Existem também alguns pratos típicos, como por exemplo o funge e o mufete. O funge é uma espécie de massa, tipo uma papa, e existem diversos tipos de funge, dependendo do tipo de massa com que é feito ou da carne/peixe que acompanha. O mufete é peixe acompanhado com feijão em óleo de palma, banana pão, batata doce, e farinha mandioca.

Claro que existe a parte higiénica da questão. Não contando, com as poucas superfícies comerciais existentes, não vês talhos e peixarias, e a generalidade da carne e peixe são vendidos na rua, e passam todo dia a apanhar sol, pó, etc, e para perceberes qual o tipo de carne ou peixe aquilo é, tens que pedir às senhoras que sacudam o manto de moscas que os cobre, e, se fores rápido, enquanto as moscas levantam e pousam consegues ver o que estava lá de baixo.

Começas a pensar de onde vem a comida que te colocam á frente, principalmente a que costumo comer ao almoço que vem de umas barracas, que para terem uma pequena ideia destes espaços, quando chove formam-se umas lagoas ao pé destas barracas , e os carros ao passarem criam uma onda de água que entra pela barraca dentro e as pessoas têm de levantar os pés durante algum tempo até a água voltar para a rua.

Nós optamos sempre por mandar sempre alguém comprar a comida e comemos no nosso local de trabalho, até porque existe aquela máxima que diz “o que o coração não vê, o coração não sente”, e se pensares que, “o que não mata…engorda”, e rezares um pouco para que a comida tenha sido bem cozida, então não há “maka”, e umas diarreias depois… já marcha tudo!

A parte engraçada é quando recebemos visitas no nosso local de trabalho, e como pessoas educadas que somos…atchim… convidamos sempre para almoçarem connosco, nem é preciso dizer que elas aceitam prontamente…até que descobrem a proveniência da comida, nesta altura, acontece sempre algo que os impede de ficar, e temos tido o “azar” de acabar sempre a jantar sozinhos.

Claro que isto aqui era um festim para a asae e durante algum tempo torces o nariz e andas cheio de cuidados mas, algum tempo depois e atendendo às circunstâncias do sitio onde te encontras, já nem reparas, e sinceramente tenho achado a comida saborosa.

É óbvio que se não apanhar uma disenteria é uma sorte, mas de fome não morro…

Angola sempre a dançar

O povo angolano deve nascer a dançar!

Toda a gente dança, uns dançam apenas bem, e outros dançam mesmo…mas, mesmo… muito bem. Vais na rua de carro e vês crianças a dançar, mesmo sem música, agora imagina com música. O angolano tem o ritmo no corpo, dá mesmo gosto ver, às vezes até apetece ir lá para o meio, mas o meu “pé de chumbo" não o permite.

Como não danço, sou um atento observador, eu diria mesmo, um estudioso da “coisa”, tal como Nuno Markl diz "o que não nos permite dançar é saber a figura triste que fazemos quando tentamos". Portanto, tenho estado atento e já aprendi umas coisas, existem alguns tipos de dança, tais como, o kuduro, o Kizomba, o semba, e a tarrachinha.

Eu vou tentar explicar algumas características destes tipos de dança, mas… aviso já! Tal como na Wikipédia isto não são informações fidedignas, são apenas informações soltas e que fui apanhando, portanto, se és alguém que fez uma procura no Google acerca deste assunto e vieste parar a este blog é altura de fechares esta página e abrires outra.

Avançando… O kuduro é ritmado e dança-se sozinho. O kizomba, semba e tarrachinha são para dançar acompanhados (pode ser por uma vassoura, que tem a vantagem de não ter pés, logo não corres o risco de a pisar...), e a principal diferença entre eles é a velocidade com que se dança, e a passada que é mais larga nuns do que nos outros. Agora, não me perguntem qual é mais rápido, se o kizomba ou o semba, eu penso que é o Kizomba, mas não tenho a certeza, sei que a tarrachinha é a mais lenta de todas.
A tarrachinha consiste basicamente no seguinte, o rapaz fica parado fazendo de vez em quando, uns movimentos para acompanhar a dama, enquanto esta… como hei-de eu dizer… roçar ou esfregar não fica bem…, digamos que faz uns “movimentos, cheios de sensualidade” muito encostadinha ao rapaz.

O semba e o kizomba são muito parecidos, e sinceramente ainda não percebi muito bem a diferença entre eles, e também acho que a diferença não é muito

A parte que eu acho muito engraçada, é a forma como os rapazes agarram a sua dama enquanto dançam. Existem muitas formas de segurar a dama, embora a mais usual, e também a que eu gosto mais de ver, é aquela que eu vou tentar descrever, sendo que, ao vivo é sempre mais giro.

Portanto, sigam os próximos passos, e se tiverem alguém por perto tentem reproduzir.

1º O rapaz coloca uma mão direita nas costas da dama, mais acima ou mais abaixo dependendo da intimidade que têm os dois…

2º O rapaz estende o braço esquerdo com a mão aberta, e a dama agarra o seu polegar, mas mesmo só o polegar .

3ª O rapaz encosta a sua bochecha na bochecha da dama, e encosta a sua mão junta com a mão da dama ao seu ouvido, como se as duas mãos fossem um rádio e ele estivesse a ouvir o relato.

4ª Cerram um pouco os olhos e lá vão eles…

Obs. Se reparares no rapaz, parece que o rádio não está a funcionar muito bem, e ele está a fazer uns movimentos à procura de sinal.

Mas… meus amigos… dançar é com eles!

segunda-feira, 2 de março de 2009

A segurança em Luanda

Muitas pessoas perguntam como é que Luanda em questões de segurança, principalmente a minha mãezinha. E, sinceramente, ainda não tinha focado este assunto por duas razões. A primeira prende-se com o facto de estar á espera de ser assaltado para ter uma opinião mais realista da coisa, mas ainda não tive esse privilégio (mãe, esta parte é a brincar …). A segunda razão tem a ver com o facto de ainda não ter uma opinião muito concreta acerca deste assunto.

No entanto, vou partilhar convosco o que eu sinto e o que me têm dito.

Quando andamos na rua vemos tanta gente à nossa volta que, por vezes, parece que a qualquer momento vai existir um motim.

Mas, também é certo que em Portugal não se vê tanta polícia na rua, embora aqui a maior parte não faça muito e esteja mais interessada em caçar alguém que lhes dê uma “gasosa”, e para ver a qualidade desta força, basta dizer que a semana passada roubaram a arma a um polícia em plena rua. Mas, existem uns que lhes chamam os “ninjas” que não são para brincadeira… cuidado, se lhes pedirem alguma coisa convêm obedecer…
O que tenho ouvido e sentido, é que se tiveres o cuidado de andar acompanhado, não andares por sítios suspeitos, e passares despercebido, em princípio, não terás grandes problemas. Agora, as pessoas com quem ando têm o cuidado de trancar sempre as portas do carro, e isto quer dizer alguma coisa…
Além de que, práticamente todas as empresas têm à porta seguranças armados, principalmente com as famosas AK 47, prontos para responder a qualquer eventualidade...

Existe na Lei Angolana algo muito especial. Segundo me disseram, se um trabalhador é apanhado a roubar a empresa, a entidade empregadora pode mandar prender o indivíduo, e só o soltam quando a empresa der ordem nesse sentido. Isto é, no mínimo, sui generis.

Imaginem uma lei destas em Portugal. Se nós efectuamos os nossos descontos, e o ordenado dos nossos governantes é fruto desses descontos, penso que podemos ser considerados a entidade empregadora. Portanto, será que poderíamos mandar prender os nossos governantes?

Angola - A terra dos geradores

Angola ainda tem muitos problemas com o abastecimento de energia à população. Embora tenha imenso petróleo, é frequente as bombas ficarem sem combustível, e existem sempre filas de carros e montes de bidões à espera de abastecer. Os bidões são utilizados para alimentar os geradores, ou acabam por serem vendidos no mercado negro a pessoas que, ou não tem bombas de combustível por perto ou não têm disposição para enfrentar as filas de espera. Ainda não percebi é, se isto resulta de um problema logístico ou de falta de refinarias.

Outro problema é o acesso à energia eléctrica, existem imensos cortes de energia que podem durar alguns dias. Para quem tem frigoríficos e arcas congeladoras com alimentos perecíveis à temperatura ambiente, isto torna-se incomportável. Como tal, a solução é ter um gerador que produza energia eléctrica. Estes geradores estão por todo o lado e produzem um barulho ensurdecedor e irritante, e imaginem aquelas pessoas que moram em prédios e que têm os geradores nas varandas e, alguns estão mesmo colocados nos corredores de acesso aos apartamentos, pois é, chateia um bocadinho…

No entanto, existem uns geradores denominados de insonorizados, desengane-se quem pense que isto significa que estes não produzem ruído, porque ao contrário do que o nome indica, apenas produzem menos. E, salvo erro técnico, eu acho que a única diferença entre os geradores insonorizados e os normais é que os insonorizados possuem uma caixa envolvente que absorve um pouco o ruído.
Portanto, as ruas têm um barulho característico, já me tinham falado no cheiro característico de África, mas nunca do som… mas, é um pouco como o cheiro a Cacia, passado uns tempos já nem se nota, e se escutares atentamente é como uma musiquinha… muito ritmada…

Agora, o que era mesmo muito giro era colocar nos geradores uns escapes daquelas marcas XPTO (que não me ocorre nenhuma) que produzem imenso ruído e dão rateres. ..

sábado, 28 de fevereiro de 2009

A noite de Luanda

Na véspera de Carnaval fui com os meus colegas conhecer um pouco da noite de Luanda. Ao inicio éramos para ir a uma festa privada que só se entrava com convite, mas o convite custava 40 dólares e a festa não parecia grande coisa. Mudamos de planos e fomos até ao palos. Entramos e estava um ambiente muito porreiro. Portugueses, Brasileiros, Americanos, Chineses e etc. Tudo a dançar numa convivência alegre e saudável. Nesta discoteca, a maior parte do espaço é descoberto, com alguma vegetação no meio (flores, palmeiras, etc…), Tem cerca de 4 pisos desnivelados onde as estrelas no céu também fazem parte da decoração. Portanto, como podem imaginar é um espaço muito agradável.
Como era Carnaval eles decidiram fazer umas partidas, colocaram uma espécie de chuveiros (fazia falta lá em casa…), em cima das pistas e de vez em quando… aqui vai disto… Tudo a dançar à chuva, alguns com uma mão a segurar o copo e a outra a tapá-lo, e eu que tinha pedido whisky sem gelo, devido a desconhecer a proveniência da água… (se apanhar a cólera vou lá pedir uma indemnização…). Mas, estava toda a gente divertida e eu até achei piada à coisa.
O problema é que cheguei a casa com a roupa colada ao corpo, e a fotocópia autenticada do passaporte ficou um pouco húmida, ainda a desdobrei cuidadosamente e coloquei-a a secar, mas digamos que desbotou um bocadinho e quem ficou na foto não era branco. Portanto, tenho que pedir para me autenticar outra cópia, por enquanto ando com a mesma, se a policia me mandar parar tenho que desculpar-me com o facto de trabalhar muito e o suor desbotou a foto, se ele não acreditar lá terei que dar uma “gasosa”, mas pequena que este tuga é pobre.

Mas, no geral, a noite valeu a pena e foi divertida.

segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009

Altura do Lazer

Finalmente, acabou a semana de trabalho (que aqui só acaba ao sábado que também é dia de trabalho). É altura de conhecer o outro lado, fomos até à ilha que é o cartão-de-visita de Luanda. Aqui encontramos praia, esplanadas, bares restaurantes e discotecas, é uma zona de lazer por excelência.

Esta é sem duvida a melhor parte de Luanda que já conheci, os bares/esplanadas estão muito bem decorados e são muito acolhedores, há para todos os gostos mesmo ao pé da praia. Uma cervejinha a “estalar”, as palmeiras, e uma tranquilidade… isto sim, é qualidade de vida.
A temperatura da água não é quente, nem é fria, é óptima!

Mas, faltava a aventura do dia, estávamos a jogar à bola ao pé da água, quando de repente dois jovens se desentendem, pelo que percebi o outro estava a roubar, confusão armada… aparecem os seguranças do bar que tentam, sem sucesso, por cobro à situação. De repente aparece um policia que puxa da arma e aponta ao individuo (aqui é assim, não há paninhos quentes…), ele foge mete-se atrás de nós, o policia puxa a culatra atrás, e vem na nossa direcção… bem, começamos, muito calmamente, a desviarmo-nos, não fosse a arma disparar e furar a bola (era chato porque tínhamos acabado de a comprar), ele mete-se na agua e mergulha (penso que se ele de facto roubou alguma coisa agora está no oceano atlântico). Resumindo, lá o conseguiram convencer que era melhor sair da água a levar um tiro, e depois de umas "cacetadas" e umas algemas nos pés, lá foi ele arrastado…

Mas, na generalidade, foi um domingo muito bem passado, e já tenho um motivo para enfrentar a semana de trabalho.


Hum… terça-feira é feriado… vai ser para relaxar!

Custo de vida em Luanda

O custo de vida em Luanda é altíssimo. Este é uma das coisas em que tenho tido mais dificuldade a adaptar-me. Eu já vinha avisado deste facto, mas mesmo assim a realidade é sempre mais dura.

No dia seguinte a que cheguei aproveitei a boleia de uns colegas e fui fazer umas compras ao supermercado. Quando comecei a olhar para o preço dos artigos fiquei parvo, só me faltou levantar os braços, parecia que estava a ser roubado.
Fui cambiar dólares por kuanzas, e já me estavam a dar dinheiro a menos, reclamei e o senhor nem ripostou, colocou o dinheiro que faltava em cima do balcão (hum… devo cheirar a carne “fresquinha”).

A muito custo lá comprei umas coisitas para me orientar nos primeiros dias, paguei e vim-me embora. Pelo caminho comecei a fazer contas, e cheguei à conclusão que tinha gasto cerca de sessenta euros!!! Isto é uma loucura! Várias perguntas me atravessaram o pensamento ” como é que estas pessoas sobrevivem?”,” de certeza existem mercados paralelos onde as coisas são mais baratas”, “ Claro que a fiabilidade dos produtos não deve ser a mesma”. Mas, se os meus colegas que estão cá à alguns anos vêm cá fazer compras é porque isto deve ser mesmo assim…
A refeição mais barata que encontrei até agora custou cerca de 20 euros, o resto anda á volta dos 40/50 euros, e é um prato, uma bebida e um café.

Portanto, tirando o combustível e o tabaco, o resto é tudo muito caro. E ainda achamos mais caro quando analisamos a relação preço/qualidade.

domingo, 22 de fevereiro de 2009

Luanda-primeiras impressões

Luanda é claramente uma cidade em crescimento, existem obras por todo o lado. Mas, é uma cidade com demasiada população, só para exemplificar, Angola tem cerca de 14 milhões de habitantes (fontes pouco credíveis), sobre a população já me avançaram vários números, mas são sempre superiores a 5 milhões de habitantes. Tendo em conta o tamanho do pais, dá para fazer uma ideia da excessiva concentração da população em Luanda.
Quando saímos à rua vemos pessoas por todo o lado. Na generalidade, as pessoas são pobres mas andam sempre sorridentes e agitadas.

As pessoas são pobres mas têm telemóveis topo de gama e roupas de marca, como conseguem isto com um ordenado de cerca de 300 dólares... não sei, mas muito provavelmente "candonga" e negócios "duvidosos".

O povo Angolano é muito vaidoso, e geralmente, andam sempre muito bem vestidos. Uma coisa que me mete confusão é ver uma rua cheia de lama em que as pessoas andam a saltar de pedra em pedra, e vês pessoas vestidas de branco, mas um branco imaculado sem nenhuma pinga de lama, não percebo como conseguem.

Algo impressionante é o comercio de rua (Luanda tem o maior mercado de África, e é um mercado de rua) . Tudo se vende na rua, desde todos artigos de mercearia, a electrodomésticos, roupa, etc, etc. Vende-se práticamente tudo o que possas imaginar. As pessoas vendem nas bermas das estradas e mesmo no meio das estradas mostrando o seu artigo aos condutores que vão passando.

Resumindo, Luanda é uma cidade cheia de agitação.

O transito em Luanda

Indiscritivel!

O transito em Luanda é realmente indiscritivel, é daquelas coisas que só presenciando, se pode realmente perceber o que significa circular em Luanda. Mas, mesmo assim, eu vou tentar transmitir uma ideia aproximada.

Imaginem uma estrada que em Portugal tinha duas vias de circulação, aqui transformam-na em quatro, cinco ou até seis vias, e o sentido em que se circula não é linear, é frequente virem carros em sentido contrário.
Os carros ficam tão próximos que eu não percebo como não estão constantemente a tocar uns nos outros.
As regras de circulação são iguais a Portugal, apenas ninguém as cumpre. E mesmo que não concordes com toda esta falta de civismo, acabas por fazer exactamente o mesmo, isto claro se queres chegar ao destino. Esta semana ficamos presos num cruzamento com carros por todo o lado, e eu, naturalmente pensei, que nunca mais saímos daqui, mas o facto é que saímos, ainda não percebi foi como.

Quando cá cheguei choveu, e já não chovia à cerca de um ano, além de que aqui, quando chove é sair de baixo. Resultado, ruas cheias de buracos e inundadas. Autenticas lagoas! ruas com água de um lado ao outro. Mas, felizmente temos um jipe com tracção e lá temos conseguido chegar ao destino, embora passe a viagem aos saltos. No entanto, esta semana, o carro parou no meio de uma destas lagoas. Eu não estava muito preocupado, até que os meus colegas começaram a ficar um pouco agitados pelo sitio onde estávamos, é que para fugirmos ao transito andamos por ruelas pouco recomendáveis. tentamos varias vezes por o carro a trabalhar mas sempre sem êxito. Solução, vestir umas botas de agua que tínhamos no carro, prender uma corda ao carro e pagar uma "gasosa" a alguém que nos rebocasse. Felizmente, ainda estávamos a prender a corda ao carro e parou um jipe pronto para nos rebocar. Rebocou-nos uns metros e conseguimos por o carro a trabalhar... ufa, já nos safamos desta... é importante referir que o senhor nem nos pediu "gasosa", coisa muito rara por estes lados.

Mas, o pior do trânsito são os "candogueiros". Os "candogueiros" são os táxis e transportes públicos de Luanda, são umas carrinhas azuis e brancas de marca toyota hiace (ou iasse, como se diz em angola). Têm um funcionamento muito simples, um motorista e um cobrador, em que a função do cobrador é receber o valor da "puxada", e gritar o destino. Estes senhores não cumprem qualquer regra e se vires um carro em sentido contrário, o mais provável é ser um "candogueiro". Portanto, ninguém os pode ver, e eles não se podem ver uns ao outros, e se aparece um candogueiro na rota de outro há logo confusão.

Conclusão, circular em Luanda é uma autentica luta, em que o objectivo é não te deixares ultrapassar, nem te amedrontares quando ameaçam cortar-te o caminho.

ainda bem que eu não tenho de conduzir...

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

A casa

Depois de uma viagem de carro onde fui procurando recolher as primeiras impressões da cidade de Luanda chego à casa que me vai acolher nos próximos tempos. Confesso que vinha com alguma curiosidade, entro dou uma vista de olhos... não é excelente mas tem as condições mínimas. O quarto tem o essencial a sala está muito bem equipada, a cozinha e a casa de banho é que deixam muito a desejar. A casa de banho não tem armários e o chuveiro, nem sei como descrever, digamos que como indica a palavra "chuveiro" este utensílio devia fazer com que a agua saí-se em forma de chuva, mas na realidade a queda da agua assemelha-se com diversas goteiras que caiem com uma velocidade lenta e não uniforme.

A cozinha apresenta já apresenta um avançado estado de degradação, mas isso não é o pior, o problema são as baratas, eu até acho que, na realidade a cozinha é delas, elas é que nos deixam lá ir de vez em quando.

Mas pronto, também não é grave, na generalidade a casa até têm boas condições, precisava de uma desinfestação e que se investisse numas obrazinhas.

Chegada a Luanda

Depois de uma extenuante viagem aterrei no aeroporto 4 Fevereiro em Luanda. Saio do avião e sinto o "bafo quente" de África. Entro numa sala e começam as filas, primeiro à a fila onde se entrega o boletim de vacinas internacional e recebe-se em troca um papel para preencher. Entretanto dirigimo-nos para outra fila (que anda vagarosamente, e tomamos o primeiro contacto com o ritmo de trabalho de angola), enquanto esperamos vamos preenchendo o papel. Finalmente... chegou a minha vez, entrego o papel, o passaporte e o boletim de vacinas e fico á espera das perguntas... nada, acho que tive sorte... a menina apenas começa a carimbar furiosamente os documentos a atira-os para cima do balcão, eu vou-os apanhando e continuo à espera das perguntas... nada... nem um "pode seguir, se faz favor". Depois de ficar um pouco à espera, decidi avançar. Passo à zona das malas onde me deparo com um único tapete (já me tinham alertado... mas ao vivo é outra coisa), onde as pessoas se amontoam na esperança de deslumbrar as suas malas. Espero cerca de dois minutos e vejo a minha a vir na minha direcção... ora toca de dar me dirigir ao tapete, depois de uns... "desculpe se faz favor".... "com Licença..."e algumas cargas de ombro, consigo apanhar a minha. Próxima fase..."será que me vão pedir para abrir as malas... espero que não"... aproximo-me da senhora que me pergunta apenas se venho de Portugal e manda-me avançar.
Isto está a correr bem, penso eu, saio do aeroporto e deparo-me com um monte de pessoas penduradas em cima de umas grades e dois policias a discutir com elas. Olho atentamente e não deslumbro qualquer saída... "Hum... devo ter-me enganado"...volto para trás..."não! não existe mais nenhuma saída..." volto a sair e vejo duas pessoas a sair pelo emaranhado de pessoas..."ah, apenas tenho que os empurrar e arrastar a mala..." olho e consigo ver o meu contacto com a mão levantada lá trás, levanto a mão e penso " será que consegue abrir um corredor de segurança para eu passar...", não! ora toca de voltar a usar a estratégia da carga de ombro . Finalmente, consigo lá chegar, enquanto o senhor ajuda-me a carregar a mala para o carro aproxima-se um individuo que me pede a famosa "gasosa"por supostamente um colega dentro do aeroporto me ter deixado passar sem abrir a mala, eu digo que não se passou nada disso e o meu contacto diz-lhe que não vale a pena que não há gasosa para ninguém, ele riposta com uma ameaça qualquer e vai-se embora, nós acabamos de carregar a mala e "abre dali para fora que se faz tarde...."

Cheguei a Luanda!

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

Destino Luanda

A pedido de várias famílias lá criei um blog para relatar as minhas aventuras por Luanda (não se preocupe Sr. Pacheco Pereira que este é para "consumo interno" e não pretendo tirar audiência aos seus...).

Deixo já claro que isto apenas irá servir de alguma coisa se tiver acesso à Internet em Luanda... E a publicação de fotos irá depender da velocidade de acesso da mesma.

Finalmente, depois de, cumpridas todas a formalidades, despedidas precipitadas, e da ansiosa espera, O VISTO SAIU... a mala já está feita à algum tempo, provavelmente a roupa já adquiriu algum mofo. A primeira coisa a fazer em angola, isto claro se não ficar retido no aeroporto, será desfazer a mala e arejar a roupa, claro que à medida que vou arrumando as coisas vou-me lembrar das coisas que me esqueci(isto soa-me a uma musica qualquer...).

Um dos objectivos deste blog será também responder a algumas duvidas que eu próprio tenho neste momento, como por exemplo o custo de vida. Já vi em diversos sítios o custo de uma refeição em Luanda, e uns falam que uma refeição simples custa entre 50 e 80 dólares outros falam num custo médio de 30 dólares. Em qualquer dos casos acho muito caro, mas a diferença entre 30 e 50 dólares dá para eu fazer uma jantarada muito bem "regada" em Portugal. Mas logo se vê... não quero engordar mas também não quero passar fome.

Por agora é tudo...

No próximo sábado, dia 14/02/2009, aqui vou eu... espero conseguir ir dando noticias.

Até já.